Existencialismo
O existencialismo. Como movimento ateu, o existencialismo floresceu na metade do século xx, mas seus efeitos permaneceram. O existencialismo provoca um efeito negativo no cristianismo evangélico.
InfluĂȘncia teolĂłgica do Existencialismo
InfluĂȘncia teolĂłgica. VĂĄrios movimentos teolĂłgicos, amplamente conhecidos por neo-ortodoxos, foram influenciados pelo existencialismo. Karl Barth enfatizou o encontro pessoal com Deus, salientando que a BĂblia Ă© o registro humano falĂvel da Palavra de Deus. Emil Brunner enfatizou que a revelação Ă© pessoal, nĂŁo proposicional. Rudolph Bultmann desenvolveu o mĂ©todo antimitolĂłgico para arrancar da BĂblia sua desatualizada cosmovisĂŁo sobrenatural para chegar Ă essĂȘncia existencial (v. mitologia e o Novo Testamento).
Principais defensores do existencialismo. Um grupo eclĂ©tico de filĂłsofos e teĂłlogos contribuĂram para o que se tornou o existencialismo moderno. Entre eles estĂŁo o teĂsta luterano Soren Kierkegaard (1813-1855), o ateu alemĂŁo Friedrich Nietzsche (1844-1900), os ateus franceses Jean-Paul Sartre (1905-1980) e Albert Camus (1913-1960), o teĂsta judeu alemĂŁo Martin Buber (1878-1965), o nĂŁo-teĂsta alemĂŁo Martin Heidegger (1832-1970), o catĂłlico francĂȘs Gabriel Mareei (1889-1964) e o leigo ortodoxo alemĂŁo-oriental Karl Jaspers (1883-1969).
Ănfases e contrastes do existencialismo. O existencialismo enfatiza a vida acima do conhecimento, o desejo acima do pensamento, o concreto acima do abstrato, o dinĂąmico acima do estĂĄtico, o amor acima da lei, o pessoal acima do proposicional, o indivĂduo acima da sociedade, o subjetivo acima do objetivo, o nĂŁo-racional acima do racional e a liberdade acima da necessidade.
No centro do existencialismo estĂĄ a crença de que a existĂȘncia tem precedĂȘncia sobre a essĂȘncia. Todos os existencialistas defendem essa visĂŁo, de alguma forma. Eles discordam em outros aspectos, mas a maioria dos existencialistas, especialmente os ateus, tendem a aceitar outras proposiçÔes:
Os seres humanos sĂŁo basicamente animais que aprenderam a escolher. NĂŁo sĂŁo vistos como seres racionais, polĂticos ou mecĂąnicos.
A humanidade como objeto nĂŁo estĂĄ livre, mas indivĂduos como sujeitos estĂŁo livres.
âEuâ nĂŁo sou âeu mesmoâ. O âserâ pode ser estudado e descrito como a âcoisaâ. Mas o âeuâ por trĂĄs da coisa transcende a descrição; Ă© totalmente livre.
Objetividade carece de existĂȘncia. Apenas o subjetivo realmente existe.
Significado e valor sĂŁo encontrados em existĂȘncia, vida, desejo e ação. Forma, essĂȘncia e estrutura sĂŁo irrelevantes e inĂșteis.
Significado e valores sĂŁo criados, nĂŁo descobertos. Existencialistas teĂstas como Kierkegaard discordam nesse caso.
Da essĂȘncia Ă existĂȘncia
Da essĂȘncia Ă existĂȘncia. Tudo isso parece mais filosĂłfico que prĂĄtico, e os existencialistas lutam com o movimento do abstrato para o concreto. Eles prĂłprios descrevem o movimento de vĂĄrias maneiras. O existencialista cristĂŁo Kierkegaard descreveu-o como âpasso de fĂ©â (v. fideĂsmo), no qual se tem um encontro pessoal com Deus. O ateu Sartre o denominouâtentativa de passar da existĂȘncia para si para a existĂȘncia em siâ. Ele acreditava que fazer isso Ă© impossĂvel, e que a vida Ă© absurda. Os existencialistas ateus, inclusive Sartre e Camus, insistem que nenhuma experiĂȘncia existencial autĂȘntica Ă© possĂvel. O melhor a fazer Ă© reconhecer a prĂłpria inautenticidade. Os existencialistas teĂstas acreditam que a experiĂȘncia existencial genuĂna Ă© possĂvel, mas nĂŁo sem o encontro pessoal com Deus. Se isso Ă© feito apenas como indivĂduo (Kierkegaard) ou na comunidade (Mareei), nĂŁo se sabe. Pelo menos Ă© possĂvel. Para o existencialista judeu Martin Buber, tal movimento vai dos relacionamentos Eu-coisa para Eu-Tu. Gabriel Marcel acreditava ser possĂvel uma verdadeira experiĂȘncia existencial passando deâmimâ (o indivĂduo) ouâelesâ (a multidĂŁo) para ânĂłsâ (a comunidade).
Avaliação do existencialismo
Avaliação. As opiniÔes existencialistas são tão variadas que comentårios gerais dificilmente podem ser classificados por um ou mais grupos sob a categoria. Algumas generalizaçÔes, todavia, podem ser relacionadas.
ContribuiçÔes positivas. A ĂȘnfase do existencialismo no amor acima do legalĂsmo encaixase no ensĂnamento de Jesus (Mc 2.27) e Ă© um tipo de corretivo para o legalismo sempre presente em alguns domĂnios da vida cristĂŁ. A ĂȘnfase no prĂĄtico em vez de no puramente teĂłrico coincide com a ĂȘnfase cristĂŁ numa fĂ© viva (v. Tiago). o NT evita o abstrato no ensinamento que boas obras resultam da fĂ© verdadeira (Ef 2.8-10; Tg 2). Todos os cristĂŁos acreditam na liberdade humana, apesar de alguns grupos discordarem em algumas nuanças do significado (v. determinismo; livre-arbĂtrio).
Existencialismo CristĂŁo
No sentido original de que âexistĂȘncia estĂĄ acima da essĂȘnciaâ, TomĂĄs de Aquino pode ser classificado como existencialista. Ele descreveu Deus como ExistĂȘncia Pura. Deus, que Ă© superior em ordem e importĂąncia a qualquer outro ser, Ă© pura Realidade sem nenhuma potencialidade. Deus Ă© ExistĂȘncia Pura. Esse Ă© o mĂĄximo no existencialismo cristĂŁo, do ponto de vista do realismo.
Erros e perigos do existencialismo
Erros e perigos. Mas o existencialismo nĂŁo aborda adequadamente a essĂȘncia da existĂȘncia. Se a existĂȘncia Ă© superior Ă essĂȘncia, entĂŁo a essĂȘncia da existĂȘncia nĂŁo pode ser conhecida. Os existencialistas, no entanto, tentam explicĂĄ-la, descrevĂȘ-la e conhecĂȘ-la. Escrevem livros sobre o assunto. Para serem coerentes, no momento em que reconhecem que hĂĄ uma essĂȘncia da existĂȘncia, deixam de ser existencialistas no sentido comum do termo. O existencialismo estabelece a disjunção radical entre essĂȘncia e existĂȘncia. Mas nunca encontramos existĂȘncia pura na vida sem alguma essĂȘncia. Jamais sabemos que uma coisa existe sem saber um pouco sobre o que ela Ă©.
o existencialismo Ă© tĂŁo subjetivo que tende ao misticismo (v. misticismo). Sem critĂ©rios objetivos, nĂŁo hĂĄ como diferenciar o encontro com o real do encontro com a ilusĂŁo. Para os existencialistas teĂstas, nĂŁo hĂĄ como o indivĂduo saber se encontrou o verdadeiro Deus ou o subconsciente â ou atĂ© mesmo SatanĂĄs (2Co 11.14).
Quando conhecemos outras pessoas ou Deus, o pessoal nĂŁo pode ser totalmente separado do proposicional. Podemos dizer algo sobre as pessoas por meio de proposiçÔes ou declaraçÔes sobre elas. Pessoas que nunca se encontraram tambĂ©m podem se conhecer intimamente por meio de cartas. Da mesma forma, a BĂblia Ă© uma revelação proposicional sobre o Deus pessoal (v. BĂblia, evidĂȘncias da).
A liberdade adotada pelos existencialistas ateus Ă© impossĂvel. NĂŁo temos liberdade absoluta. E, se hĂĄ um Deus, todas as outras vontades estĂŁo subordinadas Ă sua vontade absoluta.
A irracionalidade nĂŁo corresponde ao que a vida Ă©. Deus e a realidade absoluta nĂŁo estĂŁo em contradição. Deus Ă© o Pai de toda razĂŁo. A lĂłgica flui de sua natureza (v. fĂ© e razĂ o). Os existencialistas nĂŁo praticam a irracionalidade. SĂŁo bem racionais quando expĂ”em e defendem seu sistema. Inevitavelmente tentam a tirar conclusĂ”es racionais de sua visĂŁo da existĂȘncia. A prĂłpria tentativa Ă© contraditĂłria.
Fontes:
J. Collins, The existencialists.
W. Barrett, Irrational man.
]. P. Sartre, o existencialismo e um humanismo.
A. Camus, O mito de Sisifo.
E. Brunner, Revelation and reason.
K. Barth, Church dogmatics, v. 1.
M. Heidegger, What is metaphysics?
R. Bultmann, Kerygma and myth: a theological de- bate, org., H. W ŚŽ trad. R. H. F u l le r .
G. Marcel, The mystery of being.
K. Jaspers, Reason and existence.
S. Kierkegaard, Temor e tremor.
Enciclopedia de Apologetica – Norman Geisler