George Berkeley
Berkeley, George. Nasceu em Kilekenny, Irlanda (1685-1753). Estudou as obras de John Locke e René Descartes no Trinity College, Dublin. Tentou, mas não conseguiu, começar uma faculdade em Rhode Island, nos eua. Depois de ser ordenado ministro anglicano em 1707, foi posteriormente sagrado bispo em 1734.
As principais obras filosóficas de Berkeley incluem A treatise concerning the principies of human knowledge [Tratado dos princípios do conhecimento humano} (1710), Three dialogues between Hylas and Philonous Três diálogos entre Hilas e Filonous, e The analyst; or, ,4 discourse addressed to an infidel mathematician [O analista; ou um discurso dirigido a um matemático incréduloj (1734).
A filosofia de Berkeley
A filosofia de Berkeley. Berkeley é conhecido por duas posições aparentemente incompatíveis. Ele era um empirista epistemológico no estilo de John Locke. Também era um idealista metafísico que negava a existência da matéria.
A epistemologia do empirismo
A epistemologia do empirismo. Segundo Berkeley, a causa e cura das dificuldades filosóficas não está nos nossos sentidos ou em nossa razão, mas no princípio filosófico da abstração. Podemos imaginar, compor, dividir e simbolizar (generalizar), e nada mais. Idéias gerais são apenas idéias específicas designadas como representação de um grupo (por exemplo, um triângulo).
O erro da abstração surge da linguagem; acreditamos equivocadamente que as palavras têm significados precisos, que toda palavra representa uma idéia ou que a linguagem serve primariamente para comunicação. Ela também desperta paixões e influencia atitudes. A cura é limitar pensamentos a idéias básicas que estão livres dos seus nomes tradicionais, para evitar controvérsias puramente verbais, a armadilha das abstrações e ser claro. O resultado disso é que não buscaremos o abstrato quando o específico é conhecido, nem suporemos que todos os nomes representam uma idéia.
Berkeley acreditava que a fonte de todas as idéias é interna — sensação, percepção, memória e imaginação. O sujeito de todo conhecimento é um perceptor (a mente ou “eu”). A natureza das idéias é que elas são objetos passivos de percepção. Os resultados de tudo isso constituem o idealismo metafísico.
A metafísica do idealismo
A metafísica do idealismo. Berkeley aceitava a existência apenas de mentes e idéias. Ser é perceber (esse ispercipere) ou ser percebido (esse ispercipi). Nenhuma “matéria” nem seres extramentais existem:
- Não há como separar ser de ser percebido.
2.o argumento contra a existência de qualidades secundárias também se aplica às primárias. Por exemplo, a extensão não pode ser conhecida separada de cor e peso. Os números baseiam-se em unidade, que não pode ser percebida. A imagem muda conforme a perspectiva. O movimento é relativo. - As “coisas” não podem ser conhecidas separadamente do pensamento; elas existem apenas no pensamento.
- A crença na “matéria” acusa Deus de uma criação inútil (v. Guilherme de Occam). É impossível conceber qualquer coisa existente fora da mente. Fazer isso é um poder da mente de formar uma idéia em si (não fora dela). Nada pode ser concebido como existência não-concebida.
Provas de Deus. Além de ser um empirista epistemológico e um idealista metafísico, Berkeley era um cristão teísta (v.teísmo). Ele até ofereceu uma prova da existência de Deus (v. Deus, evidências de).
- Todas as idéias são objetos passivos ou percepção.
a) Mentes percebem, mas
b) idéias são apenas percebidas.
2. Estou recebendo uma sucessão forte e contínua de idéias vindas de fora de mim, forçadas sobre mim, das quais não tenho controle. O que denomino “mundo” todos os outros também chamam.
3. Portanto, deve haver uma Mente (Deus), um Espírito ativo que causa o “mundo” de idéias que eu e os outros recebemos de fora de nossas mentes.
4. Não percebemos essa Mente de maneira direta, mas apenas seus efeitos, as idéias que ela causa.
Respostas às objeções. Berkeley antecipou e ofereceu respostas a várias objeções, apesar de nem todas serem plausíveis.
Ao argumento de que sua teoria elimina a natureza, Berkeley responde que a natureza é um conjunto de regras pelas quais Deus regularmente estimula idéias nas nossas mentes. À afirmação de que matéria não tem significado, responde que ela é apenas uma idéia alcançada por um grupo de sensações. Embora alguns insistissem parecer severo demais comer e vestir idéias, isso é verdade, mas só porque vai contra nosso uso habitual das palavras.
Quanto aos que afirmam que objetos distantes não estão na mente, respondeu que, se não estão em lugar nenhum, estão nos nossos sonhos. Além disso, a visão de um objeto distante é o prognóstico de que logo poderei sentilo tocar-me. Apesar da objeção de que o fogo é diferente da idéia do fogo, Berkeley nos lembrou que Platão não via essa diferença. Mesmo assim, outras crenças universais são falsas. Todos podem agir como se a matéria existisse, ainda que isso seja filosoficamente falso. À objeção geral de que idéias e coisas diferem foi dada a resposta de que isso é verdade só porque a primeira idéia é passiva e a segunda é ativa (ativada por Deus). Essa teoria destrói o conceito de movimento? Não. O movimento é redutível a fenômenos sensoriais (idéias). Berkeley também respondeu ao argumento de que as coisas não pensadas deixariam de existir. Deus sempre pensa sobre elas. Essa última resposta ocasionou a famosa resposta de John Knox: “Um poema sobre Berkeley”.
Havia um jovem que disse:
“Deus deve achar muito anormal Se descobrir que essa árvore Continua a existir Quando não há ninguém no local”.
Prezado Senhor:
Sua surpresa é anormal:
Eu sempre estou no local.
E é por isso que a árvore
Continuará a existir
Já que é observada por este seu fiel criado, Deus.
Pode-se argumentar contra Berkeley que isso faria tudo um resultado direto de Deus ou, senão, artificial. Ele acreditava que isso não era verdadeiro. Há causas secundárias — idéias combinadas em padrões regulares (natureza) para os propósitos práticos da vida. O fogo indica dor em potencial, mas não a provoca.
Já que a Bíblia fala de corpos físicos, Berkeley foi acusado de negar o ensinamento da Bíblia. Sua resposta foi que o que chamamos “corpo” é apenas uma coleção de impressões sensoriais, mas não algo realmente material. À insistência de que sua teoria era uma negação dos milagres, Berkeley respondeu que as coisas não são reais, mas são percepções reais. Então os discípulos realmente perceberam que estavam tocando o corpo ressurrecto de Cristo, apesar de este não ser feito de matéria da maneira que geralmente pensamos (v. ressurreição, evidências da).
Os valores do idealismo
Os valores do idealismo. O bispo Berkeley enumerou valores positivos em seu idealismo filosófico. Por exemplo, a fonte do ceticismo (v. agnosticismo) acabou. Como podemos saber que idéias correspondem à realidade? Sem problema; já que as idéias são reais, elas não precisam corresponder a mais nada. A pedra fundamental do ateísmo também se foi — a matéria . É a matéria em movimento eterno que os ateus usam para eliminar a idéia de Deus.
A base para a idolatria é eliminada
A base para a idolatria é eliminada. Quem adoraria a mera idéia de um objeto na sua mente? Os socinianos perdem sua objeção à ressurreição, já que não há nada específico a ser ressuscitado (v. ressurreição, objeções A).
Avaliação. Apesar de Berkeley ser um cristão teísta na tradição clássica, suas idéias metafísicas causaram grande desconforto para outros teístas. Em vez de resolver problemas, parecem criá-los. Várias críticas devem ser observadas:
Sua pressuposição básica é forçada. A pressuposição fundamental do idealismo de Berkeley é que apenas mentes e idéias existem. Uma vez concedida essa pressuposição, o restante é resultado natural. No entanto, não existe razão convincente para aceitá-la. Na verdade, trata-se de petição de princípio, pois presume que apenas mentes e idéias existem. Não é surpresa, portanto, que ele conclua que nada existe além de mentes e idéias. A existência da realidade além da mente e não-mental não é eliminada por nenhum dos argumentos de Berkeley.
Seus argumentos básicos falham. Os argumentos de Berkeley a favor do idealismo são baseados na noção equivocada de que conhecer envolve a percepção de idéias em vez de perceber as coisas por meio das idéias. Trata-se novamente de petição de princípio. Se as idéias não são o objeto formal do conhecimento, e sim o instrumento do conhecimento, a teoria de Berkeley é destruída.
Suas soluções engenhosas são contrárias à experiência. Falar de corpos, matéria e natureza que todos experimentamos como meras idéias que Deus regularmente estimula em nós é brilhante, mas anti-intuitivo. É possível, mas inacreditável. Na verdade, é forçado falar em comer idéias. Afirmar que Deus apenas ressuscitou um conjunto de idéias de fato solapa a doutrina da ressurreição.
Sua teoria acusa Deus de mentira. Na verdade, Berkeley parece acusar Deus de mentira (v. Deus, natureza de; moral, argumento). Se é apenas uma questão do poder de Deus, não há dúvida de que Deus pode estimular a idéia de matéria nas nossas mentes sem que a matéria realmente exista. Mas não é apenas uma questão de poder. Deus é mais que poderoso. Ele é perfeito. Não pode enganar. Entretanto, estimular em nós regularmente a idéia de um mundo fora da mente quando esse não existe é mentira.
Fontes
Berkeley, George,EP.
G. Berkeley, ,4 treatíse concerning theprincipies of human knowledge.
,The analyst; or, A discourse addressed to an infidel mathematician. , Three dialogues between Hylas and Philonous.
J. CoEiiNS, A history of modem european phüosophy.
Enciclopedia de Apologetica- Norman Geisler